Eixos Temáticos
António Lopes (IGOT-UL), Eusébio Reis (IGOT-UL), Ana Monteiro (FL-UP)
As manifestações das alterações climáticas, expressas pela maior frequência de eventos climáticos extremos e pela modificação do comportamento de todas as variáveis climáticas no Planeta, fazem-se já sentir e serão a causa das maiores perdas e danos materiais e imateriais nas próximas décadas. A extensa informação e as numerosas evidências científicas divulgadas pelos seis relatórios do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, ao longo de mais de três décadas (1990 a 2022) não se transformaram, ao longo deste período, e na medida do que seria desejável, em conhecimento e subsequentemente em ação. A recente Lei do Clima (253/2021), que estabelece as bases da política pública de combate às alterações climáticas em Portugal, é um importante passo na luta contra este fenómeno, mas sem regulamentação não será suficiente para resolver completamente os problemas: ela estabelece um quadro jurídico para a adoção de medidas e políticas de mitigação e adaptação às alterações climáticas em Portugal, com o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e aumentar a resiliência do país às mudanças climáticas. A lei também estabelece metas ambiciosas de redução das emissões de gases de efeito estufa até 2030 e 2050. No entanto, a sua implementação requer um esforço coordenado e colaborativo de governos locais, empresas, sociedade civil e cidadãos. É necessário um compromisso de todos os setores da sociedade para trabalhar juntos na implementação de medidas concretas e eficazes de mitigação e adaptação.
Neste Eixo Temático convocam-se os investigadores a submeter comunicações sob três perspetivas: i) novos métodos de investigação em alterações climáticas, sobretudo relacionados com as novas tecnologias hoje existentes (Big Data, IoT, IA, etc); ii) estudos de caso de boas práticas que atestem a necessidade de incluir as várias escalas espaciais de análise e de intervenção no sistema climático, numa era em que é urgente eleger ações de adaptação e de mitigação dos riscos climáticos (secas prolongadas, inundações, ondas de calor, incêndios florestais, tempestades severas, etc.); iii) estudos aplicados aos vários setores da sociedade: da saúde, às florestas; da economia, à crise dos refugiados e outros deslocados; da mobilidade, à poluição urbana; das lições das pandemias no mundo, às oportunidades perdidas. Enfim, tudo o que possa pôr em risco os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) no Século XXI.
Paulo Morgado (IGOT-UL), Aquiles Marreiros (CCDR-Algarve), Teresa Sá Marques (FL-UP)
A crescente disponibilidade de tecnologias e a sua ubiquidade em todos os sectores das nossas vidas está a transformar a forma como vivemos, trabalhamos e interagimos com os outros. Da indústria 4.0 à Internet das Coisas (IoT), do Big Data à Inteligência Artificial (IA), do metaverso à realidade virtual e aumentada (RV/RA), facilmente acedidos nos nossos computadores, smartphones, smartwatches e potenciados pela gamificação e pela cripto-economia, transporta-nos aceleradamente do mundo físico para um mundo e sociedade cada vez mais digital. Esta realidade, que quase parece ficção científica, faz despoletar posições extremadas, entre o fascínio e aceitação desta revolução digital e tecnológica, pois favorece uma vivência mais sustentável e saudável, e o medo e a contestação, pois estas tecnologias roubam a liberdade e a privacidade.
Poderá ser verdade, que estas tecnologias estão a ser utilizadas para criar cidades (mais) inteligentes capazes de responder melhor às necessidades dos cidadãos, de forma mais sustentável e amiga do ambiente, e também mais resilientes face aos desafios das alterações climáticas. É igualmente verdade, que a ubiquidade da internet, especialmente com o 5G e o avanço da IA integrada em todos os dispositivos móveis constitui uma ameaça, quer para a liberdade dos indivíduos, quer para a soberania dos diferentes níveis de governação, se não for devidamente controlada e usada para o bem comum.
Um dos principais benefícios da transição digital para as cidades é a capacidade de recolher e analisar grandes quantidades de dados, que podem ser utilizados para melhorar os processos de tomada de decisão, permitir um melhor planeamento urbano e criar serviços públicos mais eficazes. Por exemplo, a sensorização pode ser utilizada para monitorizar a qualidade do ar, o fluxo de tráfego e o consumo de energia, e para potenciar a participação pública, fornecendo informações valiosas que otimizem a gestão da cidade. A transição digital também está a impulsionar a inovação em áreas como os transportes e a mobilidade. Com o aumento da mobilidade partilhada e dos serviços a pedido, as cidades estão a tornar-se mais ligadas e acessíveis. A utilização de veículos autónomos também está no horizonte, prometendo revolucionar ainda mais a forma como nos deslocamos, como usamos e ocupamos o território.
No entanto, a transição digital das cidades não está isenta de desafios. Desde logo a necessidade de fortes medidas de cibersegurança para proteger dados sensíveis e infraestruturas críticas. Além disso, existem preocupações inerentes à privacidade, à equidade digital, à alteração das condições laborais e do mercado de trabalho, nomeadamente com o fim de algumas atividades. As desigualdades podem aumentar e existe uma clara ameaça à coesão social e territorial.
Para beneficiar desta transição digital, as cidades devem adotar uma abordagem holística e colaborativa. Isto implica trabalhar em estreita colaboração com todas as partes interessadas (cidadãos, empresas e instituições académicas, governos e instituições não-governamentais), de maneira a garantir que as vantagens da digitalização serão partilhadas equitativamente e que as preocupações de todas as partes serão tidas em conta, com foco na sustentabilidade, competitividade e na qualidade de vida dos cidadãos.
Este eixo temático proporciona uma plataforma para que investigadores e profissionais discutam estas importantes questões, partilhando e apresentando soluções inovadoras para a transição digital das cidades.
Lucinda Fonseca (IGOT-UL), Fátima Matos (FL-UP), Dulce Pimentel (FCSH- UNL)
A dinâmica demográfica em Portugal, marcada pelo acentuado envelhecimento da população resultante do aumento da longevidade e do declínio da fecundidade, constitui um dos principais desafios para o futuro do país, com consequências ao nível social, económico e político. A imigração tem contribuído para atenuar a diminuição da população, mas apresenta grandes oscilações em função do crescimento económico, pelo que não permitirá, por si só, reverter a tendência de envelhecimento e declínio populacional do país.
Este quadro demográfico manifesta-se de forma regionalmente diferenciada, evidenciando-se uma tendência de despovoamento dos territórios do interior e de fronteira, e que apresentam características marcadamente rurais. A este facto, acresce o reforço da concentração da população nas áreas urbanas com maior dinamismo económico, com destaque para as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e o litoral do Algarve.
Com a situação pandémica e a expansão do teletrabalho, houve um aumento do número de residentes nas cidades que se mudaram para as regiões do interior do país. Por outro lado, a emergência de novos valores de sustentabilidade, a reorganização dos sistemas alimentares e as possibilidades oferecidas pela transição ecológica e digital trouxeram consigo novas oportunidades de desenvolvimento, uma atenção renovada e uma nova visão das políticas, europeias e nacionais, para a revitalização demográfica, económica e social desses territórios.
As transformações anteriormente descritas colocam novos desafios às políticas públicas, sendo necessárias medidas de incentivo à natalidade e de conciliação do trabalho com a vida familiar, assim como uma aposta na atração de jovens imigrantes, com diversos níveis de qualificação, de forma a equilibrar a estrutura demográfica e a necessidade de renovação das gerações. A atração de imigrantes implica ações consistentes ao nível das políticas de migração e integração, para prevenir situações de irregularidade e conflito e fortalecer as relações com as comunidades locais.
O envelhecimento da população exige novas respostas sociais e urbanísticas que permitam satisfazer necessidades específicas de serviços pessoais e de saúde, condições de habitação, acesso à mobilidade e organização do espaço público, colocadas por uma sociedade onde o número de idosos será crescente.
Tendo em conta este enquadramento, neste eixo temático aceitam-se comunicações nos seguintes temas:
- Envelhecimento demográfico: desafios e respostas
- Novas tendências migratórias
- Despovoamento rural: desafios e oportunidades em tempos de crise e transição
- Dinâmicas demográficas, (im)mobilidade geográfica e desenvolvimento local
- Migrações, diversidade e coesão sócio-territorial
- Migrações, translocalismo e reconfiguração do lugar
- Migrações e transformações urbanas
- Género e migrações
- Estrutura do povoamento e urbanização: mudanças e continuidades
- Padrões de mobilidade geográfica e relações rural-urbanas
- Dinâmicas demográficas, género e família
- Políticas de população
- Políticas de migração e integração
- Novas perspetivas teóricas e metodológicas de investigação em migrações
Gonçalo Vieira (IGOT-UL), Lúcio Cunha (FL-UC), Alberto Gomes (FL-UP)
Sendo uma ciência de charneira e focada na articulação entre Natureza e Sociedade, os estudos de Geografia passam sempre pela compreensão de como os processos naturais se desenvolvem, se interrelacionam, se materializam no espaço e se refletem nas paisagens. Procurando a sua essência, a Geografia deve promover a integração das componentes biofísica e societal, no seu papel teórico ou aplicado na (re)construção de territórios, regiões e lugares…
O estudo das dinâmicas e processos dos ambientes físicos e biofísicos é vital para entendermos o funcionamento holístico do sistema terrestre e como as sociedades interagem com o ambiente. Esse conhecimento permite antecipar e prever mudanças, assim como definir e implementar estratégias que mitiguem os impactos negativos das atividades humanas no ambiente.
O modo pouco inteligente como tem sido feita esta articulação Natureza-Sociedade tem levado a graves problemas ambientais que põem em causa a sustentabilidade do Planeta a diferentes escalas, do global ao local, fazendo emergir, desenvolver e agravar problemas ambientais (naturais e sociais), com graves prejuízos para os ecossistemas, incluindo os Seres Humanos, a sua economia, a sua cultura e mesmo o seu bem-estar.
Embora estas questões sejam claramente interdisciplinares, a Geografia terá sempre um importante papel na mitigação dos principais problemas ambientais e/ou na adaptação das sociedades aos seus impactos. E o primeiro passo é a construção de um conhecimento sólido, rigoroso e inteligível acerca do modo como se desenvolvem os processos naturais e como se articulam com os diferentes modos ocupação social do espaço. Assim, no XIV Congresso da Geografia Portuguesa pretende-se estudar, entre outros, os seguintes temas:
- Geomorfologia: da evolução das formas de relevo à sua perspetiva social e cultural;
- Climatologia: clima, alterações climáticas e os seus impactos;
- Biogeografia e Pedologia: da Natureza biótica e dos estudos da Paisagem à Ecologia e ao Ambientalismo
- Hidrogeografia: as águas, os rios, as costas e os oceanos – seus contextos, suas transformações e sua relevância social.
- Geografia Física Integrada: Dos geossistemas aos territórios e às paisagens (construções sociais sobre fenómenos naturais).
- Geografia Física e a interdisciplinaridade: podemos fazer no interior da Geografia a interdisciplinaridade que fazermos fora?
- A importância da Cartografia e da modelação em Geografia Física.
Estão todos convidados a participar neste XIV Congresso da Geografia Portuguesa e a trazer os trabalhos sobre esta temática, contribuindo para a necessária discussão interna da Geografia Física e para a sua inovação nos planos teórico e metodológico, mas também nas suas abordagens e utilizações económica, social e cultural.
Sérgio Claudino (IGOT-UL), André Carmo (Univ. Évora), Fátima Velez de Castro (FL-UC)
Ciência que se define, frequentemente, pelo trabalho de campo e pela investigação empírica, em geral, a Geografia afirma-se na sociedade sempre que preserva a sua identidade e património ancestral de ciência do território e, simultaneamente, identifica os desafios mais prementes, como hoje o são o da sustentabilidade do planeta e o da construção de sociedades mais justas, em que os direitos políticos e sociais de cada pessoa e comunidade sejam respeitados. As sucessivas mudanças de paradigma da Geografia têm de ser lidas no contexto das alterações das condições ambientais e sociais. Que ciência geográfica praticar? É uma questão que se coloca, de forma cada vez mais premente, quando as transformações ambientais, sociais e geopolíticas se aceleram em sucessivas crises, como sucede nestes atribulados anos de começo de decénio.
A ciência geográfica tem nos ensinos básico e secundário o seu rosto mais visível e marcante junto da sociedade – não por acaso, a institucionalização da Geografia nas “escolas primárias” e nos “liceus” precedeu e, em grande medida, determinou a sua presença na universidade, pela necessidade de formação de professores de uma disciplina que já funcionava no ensino superior. O professor de Geografia, o manual de Geografia, a “nota” de Geografia são o rosto mais visível desta ciência que se socializa pelo ensino.
Assumida a educação geográfica como a formação de base em Geografia que todas as pessoas devem desenvolver, há todo um conjunto de desafios na produção do conhecimento escolar: na valorização da didática da Geografia, como aprendem os/as nossos/as estudantes? Quais os interesses dos/as mais jovens e as suas necessidades de formação? Quais as opções metodológicas mais adequadas, valorizando o protagonismo de um/a aluno/a que se pretende, crescentemente, cidadão/ã? Como desenvolver o pensamento crítico nos/as estudantes? Quais os recursos educativos mais adequados à concretização das várias estratégias, numa sociedade crescentemente digitalizada? No que concerne os/as futuros/as professores/as da disciplina, como os/as formar de maneira adequada, face às crescentes solicitações da escola e da sociedade?
Enquanto ciência social, o lugar da Geografia no currículo escolar e na sociedade, mais em geral, depende muito da sua capacidade de responder adequadamente aos objetivos e estratégias de formação. Num mundo que nos coloca desafios que só serão ultrapassados se obtiverem resposta coletivas, partilhadas e solidárias, temos muito a debater sobre a ciência geográfica e o seu ensino.
Herculano Cachinho (IGOT-UL), Pedro Chamusca (ICS-Univ. Minho), João Seixas (CICS-UNL)
O mundo é feito de mudança, de desafios e de respostas coletivas. A sociedade e o território que conhecemos hoje plasmam a ação de uma grande diversidade de processos, mais ou menos intensos e poder de transformação. O século XXI, com as suas várias transições e agendas (digital, ecológica e social) e os desafios globais aos quais se torna necessário responder (alimentar, climático, de soberania, saúde, …), veio acelerar a velocidade destes processos, aumentando a complexidade dos seus efeitos.
A forma de nos relacionarmos com o espaço tem-se vindo a individualizar, ainda que vários comportamentos culturais, económicos e de consumo padronizados se disseminem pelo território. A aceleração temporal e a compressão espacial evidenciaram a velha máxima dos “cidadãos” do mundo, acentuando o debate sobre a multiterritorialidade, a identidade ou a autenticidade dos lugares. Por sua vez, a abertura dos territórios veio aumentar a complexidade do mosaico social e cultural, colocando vários desafios à multiculturalidade e à necessidade de gerir conflitos e tensões, associados designadamente à construção da identidade individual e coletiva e à possibilidade de expressão de diferentes sensibilidades culturais.
Compreender essas relações pode ajudar a construir um entendimento mais profundo das complexidades da sociedade contemporânea, bem como a encontrar soluções para desafios globais, como as desigualdades, a exclusão social, a multiculturalidade ou a justiça espacial. Neste contexto, é fundamental entender como é que a Geografia, a cultura e a identidade se relacionam no século XXI, especialmente num mundo cada vez mais globalizado, diverso e interconectado. Vimos assim convidar-vos a submeterem as vossas comunicações a este eixo temático, considerando especialmente os seguintes tópicos:
- A identidade num mundo multicultural
- Cultura e património natural e cultural
- Território e movimentos sociais e culturais
- Desenvolvimento e estratégias de base comunitária
- Governança urbana e participação pública
- Globalização, cultura e identidade
- Consumo, práticas de lazer e identidade
- Regeneração urbana, cultura e indústrias criativas
- Políticas públicas, cultura e artes performativas
Margarida Queirós (IGOT-UL), Eduarda Ferreira (FCSH-UNL), Joseli Maria Silva (UEPG, Brasil)
O mundo atual encontra-se dominado por lógicas económicas e ideais de bem‑estar estimulados pelos mercados e assinalados pela valorização do individualismo, da autonomia e consumo insaciável, enquanto fórmulas para alcançar uma “vida boa” e materialmente próspera. A história da humanidade tem revelado que o êxito da nossa espécie depende muito de relações de cooperação, pelo que o modelo extrativista – conhecido como “crescimento económico moderno” – baseado na competição e individualismo, é seletivo, deixa grupos marginalizados, pessoas desamparadas, sem direitos garantidos, construindo o que hoje conhecemos como vulnerabilidade social (Aragón, 2022).
E como o modelo em curso se baseia na ideia – equivocada – da superioridade da nossa espécie, alicerçada no desrespeito pelos ecossistemas que sustentam a vida, alienada do reconhecimento da nossa interdependência e ecodependência, provoca deterioração ambiental sem precedentes. Estes danos, hoje identificados com a “crise climática”, têm consequências potencialmente desastrosas, pois reduzem a qualidade e a estabilidade das relações sociais entre os humanos e outros seres vivos. Esta trajetória de crise afeta os contextos e tem responsabilidade nos conflitos em torno dos recursos, nos movimentos migratórios associados a refugiados climáticos, no problema do direito à cidade (habitação, transporte, equipamentos, etc.), na ameaça à saúde, na violência contra as mulheres e grupos não heteronormativos, etc.
As causas do modelo hegemónico, responsáveis pelas crises ambiental e social instaladas, necessitam ser desmascaradas por um paradigma contra-hegemónico que evidencie a aliança nociva entre a cultura patriarcal e o capitalismo (Muxí, 2018). Ora, os movimentos sociais, onde se enquadram as perspetivas interseccional de género, feministas, queer, indígenas, etc., têm demonstrado que este modelo é destrutivo e está em crise, e oferecem uma oportunidade para incorporar o reconhecimento da importância do cuidado da vida, enquanto parte indissociável de um sistema socioecológico holístico. Aqueles consideram valores para a economia como o dos limites, a atenção reparadora entre espécies e o seu papel numa longa cadeia de produção, a solidariedade interespécies e intergeracional, e também a igualdade social, diversidade e inclusão, incorporando o tempo de cuidado e os quotidianos de vida. Cuidar dos humanos e dos não humanos, reconhecer todos os conhecimentos (evitando o “conhecimento universal”), e respeitar os contextos em que múltiplas espécies se relacionam, numa economia alternativa que não tenha como fim último a mercantilização, significa uma mudança de valores e de prioridades, em que é possível a transformação sem destruição.
Em síntese, o eixo temático “Género, desigualdade e desafios socioambientais” tem por objetivo promover discussões inspiradas em diálogos pautados pelo pensamento crítico da sustentabilidade ambiental. O que tem sido evidenciado como crise ambiental tem a sua raiz no esgotamento do sistema económico moderno patriarcal e liberal que distribui desigualmente os prejuízos do esgotamento das condições de existência do planeta. Enquanto há espaços e grupos sociais que beneficiam com a exploração da natureza, outros sofrem com maior intensidade os impactos da sua degradação. Isto está relacionado com várias formas de relações de poder em diferentes escalas espaciais, envolvendo relações de género, raça, etnia, classe, sexualidades, entre outros marcadores da vivência humana e das suas interações ambientais.
Este eixo centra-se na discussão dos aspetos das injustiças relativas às prioridades e hierarquias que a nossa sociedade globalizada criou para o acesso ao ambiente saudável e que garanta a vida, e acolhe os seguintes temas:
- Vulnerabilidades à degradação ambiental e minorias sociais
- Extrativismo, género e raça
- Interseccionalidades e direito à vida vivível e à cidade
- Pensamento decolonial, raça e género nas vivências territoriais
- Impactos ambientais e morte lenta de grupos vulnerabilizados pelo mercado global
- Violência e movimentos sociais de luta por justiça ambiental
- Estratégias de resistência à lógica liberal de utilização de recursos naturais
- Conflitos em torno dos recursos e impactos na vulnerabilidade social
- Modos de organização social alternativos valorizadores da “transformação sem destruição”
Francisco Roque de Oliveira (IGOT-UL), João Luís Fernandes (FL-UC), José Lúcio (FCSH-UNL)
Se, há pouco mais de 30 anos, a rutura geopolítica maior trazida pela Queda do Muro de Berlim e pela dissolução da União Soviética abriu caminho a uma profunda reestruturação do cenário internacional, os últimos anos – e até os últimos meses, olhando os impactos globais gerados pela guerra na Ucrânia – trouxeram à evidência as principais características de um mapa geopolítico mundial muito distinto daquele então organizado em torno da bipolaridade Oeste-Este que subsistira durante duas gerações. Estamos hoje perante um jogo internacional muito mais complexo, marcado por alinhamentos razoavelmente fluídos, pelo funcionamento dos múltiplos processos de interdependência decorrentes da globalização, pela afirmação crescente de sentimentos de territorialidade de cariz identitário e, ainda, pelo assentamento de um novo centro de gravidade na Ásia, o qual traz também consigo um novo modelo de ordem internacional, que ambiciona constituir-se como alternativa à hegemonia norte-americana nas relações internacionais. A proliferação de tensões, crises e conflitos a várias escalas – ou a escalas simultâneas – tende a ser lida como a expressão mais visível desta radical reconfiguração das relações internacionais, nas quais os Estados cada vez mais concorrem com outros atores geopolíticos pelo domínio ou pelo controlo do território.
Este eixo temático estimula contributos que abordem estas tendências da geopolítica contemporânea, sugerindo a apresentação de propostas enquadradas nos seguintes temas:
- o fim do monopólio ocidental do poder
- o duelo Estados Unidos versus China no Pacífico
- democracia vs. autoritarismo no jogo geopolítico global
- a (nova) geografia política na ONU
- o alargamento da União Europeia face às crises
- desglobalização ou slowbalisation e a regionalização das cadeias de valor globais
- a fragilização ambiental e o novo ativismo ecológico
- o regresso da segurança energética
- globalização marítima e disputa pela soberania dos mares
- os mercenários modernos e a privatização da guerra
- Geopolítica e CPLP
- debates: “novas” e “velhas” teorias geopolíticas
- Turismo, storytelling político e geopolítica
Nuno Costa (IGOT-UL), José Rio Fernandes (FL-UP), João Figueira de Sousa (FCSH-UNL)
A promoção da mobilidade sustentável constitui um dos elementos-chave para a concretização dos objetivos de desenvolvimento sustentável, considerando, designadamente, a promoção de um território socialmente e economicamente mais coeso e competitivo. Considerando este enquadramento, é necessário pensar na conjugação da mobilidade e das políticas a ela associadas com o ordenamento do território, tendo em conta as centralidades e os fluxos que organizam o espaço. Neste contexto, as diferentes políticas públicas, o planeamento e a gestão dos transportes e da mobilidade são essenciais na discussão em Geografia, designadamente na perspetiva da governança dos sistemas e da emergência das novas autoridades de transporte, do financiamento, das soluções de intervenção no âmbito da mobilidade em territórios diferenciados, dos sistemas partilhados, da mobilidade como um serviço, ou da mobilidade ativa, seja em grande áreas urbanas, cidades pequenas e médias, centros e periferias urbanas ou territórios de baixa densidade.
Jorge Rocha (IGOT-UL), Rui Pedro Julião (FCSH-UNL), Ricardo Almendra (FL-UC)
A modelação espacial, a análise territorial e a informação geográfica são temáticas interconectadas que se complementam no estudo e compreensão do espaço e do território, permitindo, entre outras valências, analisar e compreender os padrões espaciais e as dinâmicas territoriais de fenómenos e processos.
A informação geográfica é a base para a modelação espacial e a análise territorial. A sua qualidade é um aspecto crítico para a tomada de decisões informadas e a obtenção de resultados fidedignos. É fundamental garantir a precisão, exatidão, confiabilidade, completude, consistência, atualidade, legibilidade e compreensibilidade dos dados geográficos utilizados. Isso pode ser alcançado através de técnicas adequadas de recolha de dados, validação, padronização e atualização.
Neste contexto, a crescente disponibilidade de Big Data (estruturada ou não) tem permitido obter representações mais detalhados sobre os padrões de movimento e comportamento humano, mudanças ambientais e outras dinâmicas espaciais complexas. Os sete V (Volume, Variedade, Velocidade, Variabilidade, Veracidade, Visualização e Valor) viabilizaram a criação de modelos complexos mais precisos e a compreensão de fenómenos que anteriormente eram difíceis de analisar a diferentes escalas.
Através da abordagem de sistemas complexos, é possível entender as interações e retroalimentações entre os elementos que compõem o espaço e o território, e como essas interações influenciam os padrões espaciais e a dinâmica territorial. Os modelos espacialmente explícitos, com especial ênfase nos suportados por inteligência artificial (onde se enquadra o machine learning) auxiliam a compreensão e predição das dinâmicas espaciotemporais, permitindo simular cenários futuros e/ou passados, identificar padrões e testar hipóteses. As suas áreas de aplicação são bastante diversificadas, abrangendo temáticas como a expansão urbana, a disseminação de doenças, a distribuição de recursos naturais, os transportes e mobilidade, entre outras desde que possuam uma dimensão espacial.
Assim, com a emergência simultânea de novas fontes de dados e novos métodos de análise, têm surgido novos conceitos e ferramentas como os de cidade inteligente, circularidade e metabolismo urbano, modelos mistos (qualitativos/quantitativos), multiverso, agnósticos e de agentes, realidade virtual e aumentada, gémeos digitais e metaverso. Apesar de diferentes em substância e área de aplicação, todas estas abordagens têm como objetivo apoiar o processo de análise territorial, permitindo compreender a organização e as transformações do espaço, identificando as relações de interdependência entre os diferentes elementos que o compõem. A análise territorial é fundamental para a compreensão das desigualdades espaciais e para o planeamento e gestão adequados do território, sendo fundamental para o apoio à tomada de decisões.
Em síntese, a análise e modelação espacial abrangem uma vasta gama de temas e tópicos, pois a temática é interdisciplinar e compreende vários domínios da Ciência da Informação Geográfica (CIG). Deste modo são bem-vindas propostas de comunicações que abordem questões, mas não exclusivamente, relacionadas com:
- Análise de dados geoespaciais;
- Análise multiescala e multiresolução;
- Deteção Remota;
- Estatísticas espaciais;
- Geovisualização e cartografia;
- Modelação espacial;
- Qualidade dos dados geoespaciais;
- Sistemas Espaciais de Apoio à Decisão.
Aguardamos ansiosamente pelas vossas valorosas contribuições.
Eduarda Costa (IGOT-UL), Helena Madureira (FL-UP), Maria José Roxo (FCSH-UNL)
O aumento da motorização baseada no transporte individual, a poluição nas suas várias componentes, a intensificação no uso de pesticidas e outros elementos exógenos associados à produção alimentar intensiva, a excessiva produção de resíduos, bem como a degradação dos solos e ecossistemas, consumos de água e energia, ocorrem em inter-relação com um quadro de alterações climáticas e de riscos ambientais.
Estas transformações têm vários efeitos nefastos na saúde, bem-estar e qualidade de vida das populações, pela sua relação e impacte no domínio social e territorial. Surgem assim como relevantes, tópicos como segurança alimentar, espaços verdes, mobilidade, soluções circulares, acesso a serviços, entre outros, realçando-se a necessidade de se apresentar e discutir soluções em termos de planeamento urbano e regional, que conduzam a territórios mais saudáveis para os cidadãos.
Convidamos-te a participar.
Luís Moreno (IGOT-UL), Ivan Tartaruga (FL-UP), José Muñoz-Rojas (Univ. Évora)
As áreas rurais, com tudo o que contemplam no âmbito da conhecida expressão “mundo rural”, têm vindo a ser objeto de atenções renovadas e têm sido, também, a viva tradução de dinâmicas de diferentes atores e territórios. No que diz respeito ao domínio do agroalimentar, talvez o mais relevante para a humanidade quando pensamos na ligação entre sustento e sustentabilidade, referimo-nos às atenções de geógrafos, mas também de diversos outros especialistas e analistas com preocupações que tantas vezes são de cariz interdisciplinar.
Para os atores do “mundo rural” e para quem a eles se liga – académicos, cidadãos ativos, decisores políticos, etc. – a transição alimentar é um desafio incontornável, exigindo respostas e exploração de oportunidades.
Além disso, os territórios rurais estão a sofrer transformações e pressões intensas nas suas estruturas sociais, económicas, paisagísticas e ambientais. Nesse contexto, os sistemas agroalimentares desempenham um papel fundamental, não somente na configuração dessas alterações como também nas suas repercussões a escalas que vão desde o local ao global como, por exemplo, em relação à pegada ambiental e climática.
Neste quadro abrangente de análise e reflexão, este eixo está aberto a uma variedade de temas que incluem, entre outros:
- Transições em sistemas agroalimentares,
- Sistemas agroalimentares sustentáveis e resilientes,
- Agricultura circular,
- Agricultura inclusiva,
- Agroecologia,
- Inovação em sistemas agroalimentares,
- Empreendedorismo em regiões rurais,
- Digitalização nos sistemas agroalimentares
- Sistemas agroalimentares alternativos,
- Estratégia do Prado ao Prato da União Europeia e seus aspectos espaciais,
- Parques agroalimentares,
- Governança multinível e adaptativa nas regiões rurais,
- Impactos e adaptações em relação às mudanças climáticas nas regiões rurais,
- Relações campo-cidade e cidades intermediárias,
- Papel das comunidades locais nas regiões rurais,
- Abordagens de género face aos espaços de estruturação da transição alimentar
- Dinâmicas complexas das paisagens rurais,
- Transdisciplinaridade e ação colaborativa,
- Estratégias territoriais integradas,
- Intensificação sustentável na agricultura.
José Luís Zêzere (IGOT-UL), Adélia Nunes (FL-UC), António Bento-Gonçalves (ICS-Univ. Minho)
O eixo temático “Riscos, mudanças ambientais e ordenamento do território” tem como objetivo discutir os desafios enfrentados pela sociedade contemporânea, articulados com a gestão do território, face a ameaças ambientais.
As dinâmicas territoriais verificadas desde meados do século XX conduziram progressivamente à ocupação de áreas naturalmente perigosas (e.g. leitos de cheia, vertentes instáveis, zonas sujeitas a erosão costeira), nomeadamente junto das grandes aglomerações urbanas e nas áreas litorais. Por outro lado, o progressivo abandono e falta de gestão dos territórios rurais acentuaram o risco de incêndio, que se manifesta igualmente nos interfaces urbano-rurais. Neste contexto, o aumento da exposição e, em alguns casos, da vulnerabilidade das populações, criam condições propícias para a ocorrência de desastres. No caso dos processos com origem climática e/ou hidrológica, às razões anteriores acrescenta-se o aumento da frequência e da magnitude dos eventos extremos, decorrente das alterações climáticas em curso.
Neste eixo temático, valoriza-se a apresentação de comunicações sobre riscos naturais, tecnológicos ou mistos, focados em uma ou várias das componentes do modelo concetual do risco (perigos, exposição, vulnerabilidade), independentemente da escala de análise.
São igualmente estimuladas as comunicações que abordem os processos de mudanças ambientais, incluindo as alterações climáticas, e as necessidades de adaptação no âmbito do ordenamento do território.
Eduardo Brito-Henriques (IGOT-UL), Maria José Caldeira (ICS-Univ. Minho), Norberto Santos (FL-UC)
O turismo é um importante fator de transformação dos territórios, nomeadamente em Portugal, onde as atividades a ele associadas detêm um significativo peso na economia. É também um fenómeno de grande complexidade e mutabilidade, que se exprime e relaciona com várias formas de mobilidade e de habitar temporário dos lugares. Assim, análises atualizadas destes fenómenos e dos impactes do turismo na coesão e bem-estar das comunidades locais, nas culturas, e na integridade dos ecossistemas são necessárias. Por outro lado, a emergência climática traz novos desafios que também precisam de ser equacionados e para os quais é necessário encontrar respostas. Assumindo que o turismo se tem vindo a afirmar como parte integrante das estratégias de desenvolvimento territorial, importa perceber como as relações entre território e turismo se podem conjugar de forma sustentável e propiciadora de qualidade de vida.
Neste eixo temático, pretende-se divulgar e debater resultados de investigações recentes que tragam contributos (conceptuais, metodológicos, e/ou empíricos) para essa discussão, numa ótica de sensibilidade espacial e atenção à especificidade dos lugares. Isto inclui, entre outros assuntos, estudos sobre novas formas de mobilidade turística, conflitos entre populações transientes e populações residentes de longa duração e sua mitigação, residências secundárias, novos modelos de articulação entre o turismo e a valorização dos ativos territoriais (e.g., geomonumentos, ecossistemas e biodiversidade, património natural e cultural, gastronomia, tradições), turismo e alterações climáticas, circularidade no turismo, estratégias inovadoras de integração dos diversos atores na governança do turismo (capacitação da comunidade local residente e dos agentes públicos e privados), avaliação eficaz de riscos e impactes (económicos, socioculturais, ambientais e simbólicos), desenvolvimento de modos criativos e inovadores de estruturação e qualificação da oferta, experiência turística, e ações locais que assegurem a sustentabilidade dos destinos turísticos.